quarta-feira, abril 21, 2010

Crônicas do Coletivo...



É impressionante a capacidade do ser humano, de um modo geral, mas o que mais impressiona (sim, ainda me impressiona) a capacidade de fazer o mal, praticar o mal sem razão.

Somado a capacidade do ser humano de praticar o mal com a capacidade de julgamento, claro, baseando-se no mal, devo dizer que está feito a “cáca”.
Estava eu iniciando minha “querida” rotina rumo ao meu trabalho, aquela deliciosa rotina de pegar ônibus em Limeira city (especialmente quando se tem que pegar 2 ônibus) e já pelas 5:30hs da manhã me deparo com uma situação que simplesmente me indignou.
O bom de se pegar ônibus nesse horário é que tudo é muito silencioso, sem muito barulho e relativamente calmo, isso é ótimo, mas associado ao sono por ter levantado as 4:20hs da matina, há conseqüências como: cochilar no ônibus enquanto se “viaja”.

Pois bem, desci do 1º “busão” no centro da cidade para eu poder pegar o 2º. Normalmente, assim como nós, os passageiros desse horário, o cobrador também pega no sono, dá uma cochilada e é até engraçado vê-los “pescarem”. Ao sair do ponto, o cobrador não acionou o alerta para o motorista fechar a porta de saída e o motorista também não percebeu essa falha. Os passageiros do fundão sentiram essa falha, pois um ar gelado da manhã entrava pela porta, mas ninguém reclamou, no próximo ponto talvez o cobrador percebesse e tudo voltaria ao normal (normalmente acontece isso).

Engraçado que nesse ponto, percebi algo perigoso, ou seja, tive um momento “premunição”. Se o cobrador não dá o alerta ao motorista, o motorista não fecha a porta, se a porta não fecha, a campainha não fica acionada e por isso o motorista permanece sem saber quem vai descer no próximo ponto. Isso é perigoso, pois o motorista pensa que está tudo OK, o cobrador também não se vira e normalmente está cochilando, e... pronto... está feito um acidente.

Isso tudo passou na minha mente, mas pensei que fossem pensamentos muito pró-ativos para uma situação que normalmente se solucionaria logo e sem problemas.

Grande engano, tudo aquilo que eu pensei aconteceu no próximo ponto. A porta ficou aberta, o cobrador não alertou o motorista, que por sua vez continuou a “tocar o barco”, os passageiros que iriam descer no próximo ponto tocaram a campainha, mas a mesma não ficou acionada por que a porta estava aberta. Então, tanto para o motorista quanto para o cobrador, tudo estava OK. Mas o problema maior foi que no próximo ponto havia passageiros para embarcar. O motorista parou o ônibus para o embarque, mas não se atentou para o desembarque. Como a porta estava aberta e o ônibus parou, os passageiros que iam desembarcar desceram do ônibus. O problema é que havia mais passageiros para desembarcarem do que para embarcar, ou seja, passageiros dentro do ônibus, então “vom bora!!”. Os que estavam descendo caíram. Um deles tentou se segurar no ferro de segurança e o ônibus, por alguns centímetros, arrastou-o e derrubou o outro.

Até aí “normal”, acidentes acontecem, não somos perfeitos, uma junção de situações, pequenas faltas de atenção, somadas, geram grande problemas. Foi impressionante ver que foi um tipo de efeito cascata, efeito dominó. Lembrei-me muito do filme Premonição (sim, já assisti apesar de achar bobo) e do Efeito Borboleta (esse é bom).

O silencio tornou-se gritaria, xingamento, palavrões. Disse um passageiro: “Motorista burro, olha aí a cagada!”.

Vale ressaltar que o povo limeirense tem certa antipatia com relação às empresas de transportes coletivos e principalmente com os motoristas em um modo geral. Isso vem de um relacionamento baseado em muitas greves (motoristas/cobradores) sem aviso prévio e muita espera por ônibus nos pontos (passageiros).

O grande problema é que depois do acontecido, bastou para o povo, que outrora estava em silencio, começar a vair o motorista. Começou o julgamento coletivo.

O motorista foi muito solicito, atencioso, parou o ônibus rapidamente, desceu e foi acudir os passageiros. Prontificou-se a levá-los para o hospital, a ajudar no que fosse necessário, mas graças a Deus foi apenas um susto e nada de grave aconteceu e não foi necessária nenhuma intervenção extra. As vítimas também pareciam ser pessoas bem simples e também entenderam (ao que pareceu) o caso.

A situação em si termina aí, vítimas e causadores acertados, tudo OK, então, vamos “tocar o barco”.

O que me deixou bem triste e me chocou foi o fato das pessoas que, sequer sofreram nada, condenaram o motorista como se ele fosse o culpado de tudo. Claro, se fôssemos determinar o causador do efeito, esse foi o cobrador. Mas não, xingaram o motorista, praguejaram, generalizaram de uma maneira bem coletiva (xingamento coletivo dentro de um coletivo). Foi algo deplorável. Tentei me colocar no lugar do motorista ao ser julgado condenado por um erro. Vi também que o cobrador ficou abalado com aquilo, não foi por querer, apenas um vacilo e aconteceu!

Um dos passageiros exaltados, disse (com essas palavras): “Esse começou mau o dia e até o fim do dia ele vai fazer muita cagada”.

Isso me chateou muito. Não estou defendendo o motorista, mas sim o ser humano. Esse motorista em específico deve ter seus 55 a 60 anos, penso que metade desses anos foram destinados a profissão dele. Lembro que quando estudava na 2ª série ele já trabalhava como motorista e isso já faz 20 anos!! Então eu penso que ele deva ter uns 30 anos de profissão. Sempre que eu pego ônibus com esse motorista, não houve caso de acidentes. E mesmo assim, 30 anos numa empresa de transporte coletivo, no mínimo ele deve dirigir bem ou a contento.

Mas é impressionante essa nossa capacidade (não delegada) de julgar e condenar as pessoas, principalmente por aquilo que elas fazem de mau. Todos somos maus, logo todos deveríamos ser condenados, por isso o julgamento não pertence a nós, mas sim daquele que é Perfeito, ou seja, Deus.

A pessoa passa a boa parte da vida tentando fazer tudo correto, mas basta fazer algo de errado (ou melhor, algo errado que afete muitas outras pessoas), pronto, crucifiquem o cidadão!!!

“Thiago, você está me dizendo então que todo aquele que faz algo de mal há uma pessoa não deve sofre as conseqüências?”. “Thiago, você está dizendo que se uma pessoa que mata outra não deve ser julgada e condenada?”. Não minha gente, não vamos fazer uma “salada” e nem muito menos sensacionalismo (detesto isso), o que aconteceu foi um acidente e não algo planejado. Em tudo há conseqüências, seja planejado ou não, mas em tudo deve haver coerência, sensatez, discernimento e sabedoria nas coisas, sempre pensando no próximo. Uma coisa é alguém planejar o mal a outro, outra coisa é alguém acidentalmente prejudicar outro. Aconteceu um acidente, o motorista estava envolvido, não foi planejado ou um tipo de má conduta do mesmo. Mas daí a condenarem e a sentenciarem o motorista a viver um péssimo dia é muita coisa né?

Como é costume das pessoas que, ao se depararem com um problema, tentarem apontar ou encontrar um culpado ao invés de ajudar. Não adiantaria nada apontar que esse ou aquele é o culpado enquanto a questão é ajudar, pensar no próximo. Ninguém se levantou para ajudar, só para xingar e gritar.

Agora imagine você tentando fazer seu trabalho de maneira correta, você sempre faz o que está estipulado, mas num determinado dia você se esquece de algo ou não faz como todos estão acostumados a ver você fazendo. Por essa falha você é pesado, medido e por isso condenado a procurar outro emprego. Seria algo sensato ou muito menos coerente? Acho que não. Isso normalmente costuma piorar se o trabalho se resume a muitas responsabilidades que por sua vez, direta ou indiretamente, envolve outras pessoas.

Ou seja, algumas falhas podem destruir você, mesmo você tendo se dedicado boa parte da sua vida a fazer as coisas sem falhar (ou não com freqüência). Agora entendo porque devemos fazer as coisas como se tivesse fazendo para Deus, por que se você faz sem ter essa consciência, infelizmente vai ter muitos problemas.

Uma vez ouvi uma supervisora minha dizer algo que me chocou, mas que é o lema do mundo: “Quem faz as coisas tem menos chances de ser promovido do que aquele que não faz nada”.

É a mais pura verdade...

Desci do ônibus e pedi a Deus que cuidasse daquele motorista bem como seu parceiro (o cobrador) e que tivessem um bom dia de trabalho.

“Aonde você quer chegar com esse texto gigante Thiago?”

Simples: Não condene as pessoas, todos erram, ao invés de criticar, concentre-se em ajudar e se você não pode ajudar, então não atrapalha!! Pare de julgar as pessoas e concentre-se em ajudar ou naquilo que realmente importa!

2 comentários:

  1. PODE cre, tambem ao inves de criticar, porque não os avisaram que a porta estava aberta, pensavam que veriam a mesma aberta, e de pensar, morre um burro né. enfim, tds tem uma parcela de culpa.

    Abçs brother

    ResponderExcluir
  2. É verdade. Eu mesmo pensei em tudo aquilo, mas nem me movi (poderia ter avisado também), mas como eu disse no texto, pensei que tudo iria voltar ao normal logo no próximo ponto. Mas a gente quase sempre não dá ouvidos à voz de Deus. Mas prefiro não pensar em culpa, isso não é bom.
    Abs ae... valeu!

    ResponderExcluir